ARGUMENTO AD POPULUM
Trata-se de uma forma de argumentar que retira a sua força do apelo
popular ou à maioria
. Justifica assim algo como normal com base na
assunção de que se trata de uma prática comum, de uma convicção
largamente partilhada ou de um procedimento habitual.

O argumento ad populum é geralmente empregue para justificar formas
de agir e subentende a máxima «em Roma, sê romano» — um princípio
cuja razoabilidade ninguém negará.

Todavia, esta forma de argumentar é usualmente classificada como uma
falácia lógica. Dizem os lógicos que a maioria ou os costumes não são
critério para estabelecer a verdade de uma proposição. Dizer que um
determinado produto é bom porque é consumido pela maior parte das
pessoas, por exemplo, não constitui uma prova lógica de que o produto é,
realmente, bom.

O problema é que a argumentação ad populum se liga essencialmente às
ações e às deliberações, que são algo diferente de proposições. Se destas
podemos dizer que podem ser verdadeiras ou falsas, já das ações apenas
podemos dizer que são aceitáveis ou não, boas ou más, moralmente
corretas ou não. Neste sentido, podemos dizer que o
ad populum faz
apelo ao senso democrático, valorizando o que é instituído por práticas
comuns ou o que vai ao encontro da maior parte das pessoas, sobrepondo
a dimensão social aos aspectos formais. É claro que quando alguém
argumenta com um polícia que, apesar de reconhecer que ia acima do
limite de velocidade, acrescenta que «é o que toda a gente faz», ele está
a procurar livrar-se da multa, fazendo apelo a regras que não são as que
o polícia supostamente deve fazer cumprir, pelo que este pode contra-
argumentar também com o
ad populum: «pois, mas deve reconhecer que
todos sabem que o código das estradas não permite circular acima das
velocidades estipuladas».

Como na maior parte dos argumentos em ad, tudo se joga na zona
cinzenta entre regras formais e práticas sociais, autoridade legítima e
papéis sociais, o racional e o razoável. Podemos, por conseguinte, dizer
que a argumentação
ad populum — como aliás qualquer outro tipo de
argumentação — pode ser demagógica, populista e enganosa, como pode
ser apropriada, justa e razoável. O contexto, os valores e os papéis de
quem avalia, bem como a situação em que é usada, serão geralmente a
base  para a aceitar ou para a condenar.

Dependendo do contexto e de elementos circunstanciais, a argumentação
ad populum não é lógica nem intrinsecamente falaciosa. Pode revelar-se
como um critério apropriado ou desapropriado, manifestando-se, nesse
sentido, como mais ou menos eficaz em termos persuasivos. Trata-se, em
suma, de uma estratégia retórica que argumenta a partir do impacto
prático que a opinião da maioria exerce sobre os espíritos.
Rui Alexandre Grácio
 
VocAbulário
 
© Rui GrÁcio 2015