os procedimentos de enunciação implicam uma forma de dar a ver
personalizada e individualizada através de procedimentos de filtragem e
de saliência (filtrar é reter alguns aspectos das representações e ocultar
outros; salientá-los é servir-se de meios da língua para fixar a atenção»
Grize, 1996: 68), é possível dizer que o discurso é solidário de
esquematizações.
Segundo Grize, uma esquematização é uma forma discursiva de dar a ver
e, simultaneamente, de solicitar um sentido. Se ao discorrer produzimos
esquematizações que implicam quer um modelo mental de quem as
produz quer a solicitação de sentido por parte daqueles a quem elas são
dirigidas, então «comunicar as suas ideias a alguém é sempre, pouco ou
muito, argumentar» (Grize, 1997: 9).
A argumentatividade é assim algo que atravessa constantemente a
discursividade uma vez que esta é essencialmente um processo de
especificação que configura o sentido através da atribuição de significações
polarizadas em referentes, ou seja, efetuadas no diálogo e para o diálogo.
Escreve Grize (1996: 50): «uma esquematização tem assim, sempre, uma
certa dimensão descritiva, mesmo que os elementos da descrição sejam
imaginados, mas, em todos os casos, o autor deve fazer uma escolha dos
aspectos que representará, deve selecionar os traços pertinentes do seu
referente. Ora a pertinência tem uma dupla fonte. Ela é simultaneamente
tributária da finalidade do esquematizador e das expectativas que ele tem
do seu auditório».