RACIOCÍNIO
À consideração da argumentação em termos de raciocínio corresponde a
uma abordagem lógica. Independentemente do contexto em que ocorre e
do tipo de raciocínio que se trate (indutivo, dedutivo, abdutivo, etc.), a
perspetiva lógica foca-se essencialmente na validade e na força da
inferência
.

Um raciocínio implica um movimento de ilação ou um salto inferencial que
se opera entre
premissas e conclusão. De um ponto de vista lógico a
linguagem natural em que um raciocínio é formulado deve ser reconduzido
a uma expressão proposicional que permita distinguir o que ocupa o lugar
de premissas e o que ocupa o lugar de conclusão. A abordagem lógica
implica assim a uma conversão proposicional da linguagem de forma a
avaliar a inferência em termos da estrutura do raciocínio.

Enquanto de um ponto de vista formal o raciocínio pode ser analisado em
termos de
validade inferencial, em termos informais a avaliação dos
raciocínios remete para critérios como a
aceitabilidade da conclusão
tendo em consideração a
relevância e a suficiência das premissas. A
aplicação destes critérios é determinada pela submissão do raciocínio ao
teste de perguntas ditas «críticas».

Por exemplo, de um ponto de vista formal podemos dizer que o raciocínio:

Se A então B
Ora B
Logo A

não é um raciocínio válido porque a condição necessária para afirmar B é
A. Ora, no raciocínio apresentado, o que é afirmado não é o antecedente
mas o consequente, não sendo possível dele concluir necessariamente o
antecedente.

De um ponto de vista informal podemos considerar o seguinte raciocínio
baseado no apelo à autoridade:

«Premissa maior: A fonte E é um especialista num determinado domínio S
que contém a afirmação A.
Premissa menor: E afirma que a proposição A (no domínio S) é verdadeira
(falsa)
Conclusão: A pode ser plausivelmente ser considerada verdadeira (falsa)».
Para determinar se este esquema é aplicável, é proposto que se coloquem
as seguintes seis questões relativas ao argumento do especialista:
«1. Questão da especialidade: Até que ponto E é credível como fonte
especializada?
2. Questão do campo: Será que E é um especialista no campo a que A diz
respeito?
3. Questão da opinião: O que é que E afirma que implica A?
4. Questão da confiabilidade: Será que E é pessoalmente confiável como
fonte?
5. Questão da consistência: Será que A é consistente com o que outros
especialistas afirmam?
6. Questão do suporte da evidência: Está a asserção A baseada em
evidências?» (Walton, 2007b: 28).

O ponto de convergência da análise lógica dos raciocínios com a
argumentação dá-se pela introdução da dimensão crítica que abre o
raciocínio a um processo de avaliação em que, para além dos aspectos
formais da inferência, pode ser questionado o que é selecionado como
premissas e o que funciona como
regra de passagem, ou garantia,
destas para a conclusão.

Desta perspetiva a garantia de um raciocínio corresponde a um modo de
argumentar que pode ser aceite ou não. Por exemplo, se se disser que «o
filme X é o melhor filme de sempre» com base na premissa «o filme X é o
que mais vendeu», o modo de argumentar ou regra de passagem deste
raciocínio é «os melhores filmes são os que mais vendem», o que é
naturalmente um critério que pode ser aceite ou não. Os
modos de
argumentar
são assim regras de avaliação que, não sendo necessárias,
podem ser sujeitas a
reforço. Para o exemplo anterior pode reforçar-se a
garantia dizendo que é assim que a maior parte das pessoas mede o
sucesso de um filme.


Rui Alexandre Grácio
 
VocAbulário
 
© Rui GrÁcio 2015