GENERALIZAÇÃO APRESSADA
O processo de generalização é um procedimento indutivo que, com base
num determinado número de casos, estabelece um padrão. No seu limite,
a generalização apressada significa que estamos a saltar de um caso para
um padrão geral e que essa passagem não é suficientemente segura
enquanto
inferência.

Dizer, a partir de algo que uma pessoa de determinada nacionalidade fez
que as pessoas dessa nacionalidade são assim é produzir um inferência
com muito fracas bases e que não é segura nem rigorosa. Por exemplo, se
dissermos que «ontem divorciou-se mais um ator de Hollywood» e, na
sequência, acrescentarmos que «os atores de Hollywood estão sempre a
divorciar-se», naturalmente que, em termos inferenciais esta é uma
conclusão que está longe de ser segura. Por isso, e do ponto de vista
lógico, estamos perante um raciocínio que peca por ser uma
generalização abusiva, excessiva ou apressada.

No entanto, as coisas tornam-se mais complexas se, em vez de vermos
este tipo de discurso como um raciocínio indutivo, o virmos como uma
argumentação pelo exemplo. Nesse caso, a relação entre premissa e
conclusão inverte-se: a premissa será «os atores de Hollywood estão
sempre a divorciar-se», afirmação que é corroborada pelo exemplo:
«ontem divorciou-se mais um ator de Hollywood». Assim, de um ponto de
vista lógico, um modo de inferir apoiado em bases insuficientes é
considerado um modo de raciocinar falacioso. Mas, de um ponto de vista
argumentativo a força de um único exemplo permite pelo menos não
descartar o padrão como possível e obriga a pôr como possível a sua
hipótese.

Por outro lado, se o exemplo invocado for algo de tocante, os seus efeitos
persuasivos
podem ser consideráveis. Obviamente que não podemos
concluir que «o mundo é um lugar perigoso para as crianças» a partir do
caso do rapto de uma criança. Mas o
exemplo poderá certamente
influenciar no sentido de nos tornarmos mais prudentes e agirmos de
forma mais cautelosa no que diz respeito aos nossos filhos. Se a
generalização apressada pode ser logicamente falaciosa, o facto é que ela
é por vezes suficiente, nomeadamente quando queremos jogar pelo
seguro. É aliás comum que formas de raciocinar que são consideradas
como logicamente falaciosas sejam usadas banalmente como formas
credíveis de discorrer.


Rui Alexandre Grácio
 
VocAbulário
 
© Rui GrÁcio 2015